BPO - Batista Pereira & Oliveira - Advogados e Associados
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Por Ana Conceição e Bruno Villas Bôas | De São Paulo e do Rio

A produção da indústria surpreendeu negativamente ao crescer 0,2% na passagem de janeiro para fevereiro, feitos os ajustes sazonais, abaixo da previsão média do mercado (0,6%). O resultado reforçou a percepção de moderação da atividade econômica no primeiro trimestre, mas existem “poréns”. Analistas ponderam que a queda de 5,2% da indústria extrativa puxou o resultado para baixo. Além disso, a abertura da indústria mostra um desempenho ligeiramente mais favorável, com 14 das 26 atividades com taxas positivas.

O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV) acredita que o ritmo mais moderado da indústria e dos serviços neste início de ano poderá ser compensado por surpresas do agronegócio. Para Julio Mereb, pesquisador do Ibre-FGV, a previsão de avanço de 0,7% do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre, frente aos três meses anteriores, poderá ser mantida, com maior contribuição da agropecuária.

“Os dados da indústria e de serviços sugerem uma atividade econômica um pouco mais fraca no primeiro trimestre do que os analistas imaginavam. Por outro lado, o setor agropecuário vem surpreendendo positivamente, da mesma forma como tivemos uma surpresa positiva no setor em 2017. As revisões do IBGE para o setor agrícola têm sido consistentes para cima. E os dados de pecuária têm vindo bem” disse o economista do Ibre-FGV.

Em fevereiro, a produção da indústria cresceu 0,2% impulsionada pelos bens de consumo duráveis, que avançaram 1,7% frente a janeiro. O resultado geral recuperou assim uma pequena parcela da perda de janeiro, quando havia recuado 2,2% frente a dezembro de 2017 (dado revisado de queda de 2,4%). Pela média móvel trimestral, considerada pelo IBGE um espécie de indicador de tendência, o setor apresentou crescimento de 0,3%.

Segundo André Macedo, gerente da pesquisa, o aumento da produção de eletrodomésticos da linha marrom, motocicletas e mobiliário sustentou o avanço dos duráveis. Ele destacou ainda o crescimento da produção de televisores para a Copa do Mundo. “Em anos de Copa do Mundo observamos crescimento da produção de televisores para atender à demanda do varejo. Esse movimento influenciou positivamente no mês”, disse.

Por outro lado, a indústria extrativa (petróleo, minério de ferro) pesou no resultado ao recuar 5,2% frente ao mês anterior, o pior desempenho desde o rompimento da barragem de Mariana (MG), em novembro de 2015, quando havia recuado 11%. Segundo Macedo, o minério de ferro foi o responsável pela queda da atividade no mês. O IBGE não abre, contudo, resultados mais detalhados.

“A queda na indústria extrativa é mais associada a questões operacionais e menos vinculada à demanda doméstica. Parte relevante da surpresa negativa veio desse setor”, disse Artur Manoel Passos, economista do Itaú Unibanco, em relatório.

Quando comparado a fevereiro de 2017, a produção da indústria cresce 2,8%, maior alta para o mês desde 2014 (4,8%). No acumulado dos últimos 12 meses, o setor apresentou uma alta ainda mais intensa, de 3%, conforme dados da Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física (PIM-PF), divulgada ontem.

Para economistas, a produção deve crescer gradualmente nos próximos meses, beneficiando-se pela recuperação da economia, a queda da taxa de juros e o aumento de investimentos na Argentina, importante mercado de manufaturados brasileiros. O Itaú prevê alta de 0,6% da produção em março, na comparação ao mês anterior. A Mongeral Aegon prevê expansão ligeiramente menor, de 0,5% por essa base de comparação.

Helcio Takeda, da consultoria Pezco Economics, afirma que o destino do setor dependerá do consumo das famílias, que pode continuar moderado diante do grande número de desempregados. “Sem o estímulo do FGTS e dependendo só do mercado de trabalho, a impressão é que o consumo não terá a mesma robustez do ano passado”, afirmou Takeda, acrescentando que, nesse contexto, existe a preocupação de que a indústria custe a ganhar tração.

No caso da Pezco, que previa alta de 1% da indústria em fevereiro, a projeção de comportamento do setor no ano será revisto, de alta de 5,1% para algo abaixo de 4%. A consultoria prevê alta de 0,4% em março, o que resultaria em crescimento de 0,2% no primeiro trimestre, frente aos três meses anteriores.

Patrícia Pereira, economista da Mongeral Aegon, disse acreditar que o resultado de fevereiro não deve provocar uma onda de revisões de projeções de desempenho da atividade. “Estamos vendo números mistos, dúbios”, disse ela.

Fonte: Valor Econômico

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