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Autoridades no Reino Unido alertam para fim da Libor

Por Katie Martin e Philip Stafford

As autoridades financeiras do Reino Unido emitiram uma mensagem clara para os bancos e seguradoras na semana passada: não estamos brincando quando falamos no fim da Libor e vocês precisam estar prontos para isso.

Cerca de US$ 170 trilhões em contratos de derivativos dependem dessa taxa referencial e os operadores de um banco de investimentos do centro financeiro de Londres estão cientes de que os dias da Libor podem estar contados. A mudança em 2021 será “realmente grande”, diz um deles.

Passe para outro andar do mesmo banco e as indagações sobre o assunto junto a executivos experientes do mercado de bônus receberão olhares vazios, muito embora a mesma taxa esteja embutida em quase todos os instrumentos de dívida em circulação. A divergência é uma visão comum.

As autoridades parecem ter perdido a paciência com essas posturas não coordenadas. Na semana passada, a Autoridade de Regulação Prudencial (PRA) e a Autoridade de Conduta Financeira (FCA) enviaram cartas aos chefes dos maiores bancos e companhias de seguros que elas regulam, exigindo avaliações detalhadas dos riscos relacionados ao fim da Libor, ultrapassada e alvo de escândalos. As autoridades reguladoras exigiram que planos sejam aprovados pelos conselhos de administração e que cada instituição nomeie o gerente sênior responsável pela supervisão desses planos.

Serge Gwyne, sócio da área de banco corporativo e institucional da consultoria Oliver Wyman, diz que isso é o máximo que as autoridades podem fazer antes de partir para a regulamentação, que elas querem evitar em troca de uma solução “liderada pelo mercado”. “Há o risco de a Libor não receber a prioridade que deveria, principalmente por causa dos preparativos para o Brexit”, afirma ele.

A urgência das autoridades vem sendo motivada não só pelo escândalo de manipulação envolvendo a Libor, que mandou operadores para a prisão, mas pela evolução dos mercados após a crise financeira. A Libor mede o custo dos empréstimos sem garantia entre os bancos por períodos específicos, geralmente de um três e seis meses. E continua embutida em tudo, de hipotecas ao capital regulatório dos bancos, com mais de US$ 370 trilhões em contratos ligados a ela, segundo a Isda, associação setorial.

As regras criadas a partir de 2008 encorajaram os bancos a buscar outras fontes para oferecer financiamentos estáveis de longo prazo. “O mercado mudou”, diz Shankar Mukherjee, sócio de serviços financeiros da EY.

Mas o pretexto continua. Para ajudar no cálculo diário da Libor, os bancos precisam submeter estimativas que se fiam em “julgamentos de especialistas”, e não na atividade real. Face ao risco de reputação, muitos abandonaram o processo. A maioria dos 20 que restaram gostaria de fazer isso também, mas eles foram convencidos pela FCA a ficar até o fim de 2021. Além desse prazo, não está claro se e como a Libor continuará operando. Enquanto isso, o volume de contratos que têm a Libor como taxa de referência e vencem depois de 2021 continua crescendo.

Sem a Libor, contratos perdem a referência de preço. Mas, os esforços para transmitir as implicações disso para um número maior de investidores e banqueiros têm encontrado obstáculos, já que as atenções estão voltadas para o Brexit e as regras Mifid. “Esse é um projeto que exigirá uma coordenação sem precedentes em diferentes negócios, de derivativos a empréstimos e hipotecas”, diz Scott O’Malia, executivo-chefe da Isda.

Milhares de contratos existentes que têm a Libor como referência terão de ser mudados, uma possibilidade particularmente assustadora para bônus no mercado em que os emissores terão de buscar a permissão de cada detentor do papel para a troca. “Obter a permissão numa base bônus a bônus seria uma dor de-cabeça enorme”, diz um banqueiro europeu.

A Intercontinental Exchange, atual administradora, descreveu a taxa como uma “rede de segurança muito boa” para os negócios, que não pode mudar, e sinalizou que está preparada para continuar apoiando a Libor além de 2021. Essa posição encorajou alguns participantes do mercado a segurar os preparativos para a mudança.

A alternativa é os tomadores abandonarem a Libor quando ela terminar, o que poderá envolver a troca de títulos de taxa flutuante por papéis de taxa fixa, um golpe para os investidores num cenário de juro em alta. Além dos títulos de taxas flutuantes atrelados à Libor, qualquer contrato que faça referência aos “mid-swaps” também está ligado à taxa referencial.

“O problema parece tão grande que mesmo que você tenha tempo para fazer a mudança, algumas pessoas ainda não se mobilizaram”, diz François Jourdain, diretor-gerente do Barclays. “Algumas pessoas vão se atrasar. No entanto, o mercado está se movendo na direção certa.” Seu banco está preparando um evento educativo sobre a questão nesta semana e o interesse tem sido elevado, especialmente depois que a carta das autoridades reguladoras britânicas chamou atenção para o assunto.

As autoridades britânicas gostariam que o mercado usasse a taxa referencial reformada chamada “Sonia”, em que os juros são pagos em libras esterlinas. Já começam a surgir emissões de bônus com essa taxa de referência. O Lloyds foi o primeiro banco a usá-la em setembro, seguido do Santander e do Royal Bank of Canada. A ICE e a CurveGlobal, uma entidade controlada por bancos de investimentos, e a London Stock Exchange Group começaram a negociar contratos futuros da Sonia para estabelecer preços de mercado.

Isso vai ajudar, afirma Michael Voisin, diretor global de mercados de capitais da Linklaters. “O desafio será criar liquidez em produtos com o novo referencial… Então, buscamos soluções para os bônus antigos”, disse.

Apesar de falhas, a Libor permitia saber o custo de um empréstimo em qualquer período. As taxas “overnight” podem flutuar dramaticamente, especialmente em períodos de turbulências. Os bancos tentam gerenciar seus ativos e passivos de maneira precisa, usando a mesma taxa referencial. Na transição, os bancos poderão ter duas contabilidades, uma para os negócios atrelados a Libor e outro para taxas alternativas. “Um dos grandes desafios para os bancos vai ser lidar com uma mudança fundamental na forma como os empréstimos são precificados e o risco de crédito”, disse Gwynne.

 

Fonte: Valor Econômico

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