BPO - Batista Pereira & Oliveira - Advogados e Associados
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Fevereiro de 1909: a publicação do Manifesto Futurista ( Le Futurismé ) no jornal francês Le Fígaro marcou o início do movimento futurista nas artes.
A conexão arte – ação então apoiada pelos artistas deste movimento, apresentou-se com verdadeiro “tsunami” na inovação das artes na época. Nas três décadas seguintes continuou a inundar os campos das artes, atingindo a literatura, as artes visuais, o teatro, o artesanato, a música e a fotografia, tendo como objetivo a renovação dos aspectos sociais e estéticos e como material de fundo o desenvolvimento tecnológico e científico.
As expressões “novo estado das coisas” e “beleza da velocidade” foram cunhadas pelo futurismo, sendo representativas da proposição do movimento, para demonstrar a evolução artística a um novo mundo, então em rotação acelerada pelo emprego do dinamismo e simultaneidade.
Eventos, à época presenciais, organizados como serenatas, verdadeiras soirées futuristas, reuniam expressivos e inúmero pintores e artistas, refletindo a frenesi do que estava por vir como nova onda, inovadora e de concepção libertária.
Traçando um paralelo com o mundo atual, da comunicação midiática, poderíamos dizer que tais serenatas seriam eventos com o intuito de atrair público das redes sociais.
Confrontado pelo início do cubismo de Pablo Picasso, o qual defendia uma abordagem perceptiva e não convencional da arte a ser referenciada por objetos estáticos, o futurismo manteve sua concepção original, onde o progresso dos efeitos dinâmicos se davam sobre a tela (superfície estática) impondo, por meio da pintura, em especial, um dinamismo impresso por eventos simultâneos que visavam a associação da percepção visual, emocional e sensitiva dos pensamentos humanos.
Na obra Velocidade Elegante – Palavras libertas (1º registro), de Marinetti, fundador do movimento futurista, observam-se fragmentos de objetos, frases esparsa e alterações tipográficas, sendo impossível, ao apreciá-la identificar um texto coeso e contínuo a permitir a leitura linha a linha.
Fevereiro de 2023. O “novo estado das coisas”, então afetado pela inovação tecnológica com o poder e força da mídia social se apresenta ao mundo como ferramenta da Inteligência Artificial Generativa capaz de revolucionar a forma da busca da informação e a própria internet.
A “beleza da velocidade”, dos futuristas doutro século, representada no CHAT GPT . O mundo mais uma vez inclina-se para fora do seu eixo natural e em rota acelerada agora pela tecnologia traduz-se também numa concepção libertária.
A Inteligência Artificial, que até então permitia à máquina replicar habilidades humanas e englobar processos cognitivos com capacidade de aprendizado, diante da possibilidade inovadora de processar milhares de dados juntamente com a programação de algoritmos, pode, agora, interagir como os humanos, de uma forma ainda não experenciada e ir muito além da mera automação mecânica ou da simples realização de tarefas repetitivas, massificadas e manuais até então ofertadas pelos sistemas iterativos da inteligência artificial..
De modelo inovador, a Inteligência Artificial Generativa com geração de conteúdo de forma independente se apresenta pelo Chat Generative Pre-Trained Transformer (GPT) e mostra-se assim capaz de ler e escrever e ainda responder tudo de forma personalizada às perguntas dos usuários sendo verdadeiro sistema conversacional.
Se até aqui a I.A. podia ler e escrever, agora ela consegue criar textos e apresenta respostas visuais completas, uma vez que se fez capaz de entender o conteúdo, entregá-lo sob demanda e sob medida é o diferencial.
O CHAT GPT como um Chat bot (lembrando que bot é a abreviação de robô) de busca visa garantir respostas com base na inteligência artificial generativa, mas possui uma interface simplista, nos termos dos techno Workers.
Simplista, porque o acesso e a comunicação ao CHAT ocorre através das já conhecidas caixas de diálogo (que tem por finalidade automatizar ações de atendimento, conversar com o cliente, visitante, usuário) então acrescidas de recursos chaves como canal, tipo de conteúdo usado na interação e a estrutura de software coordenados da ações conta agora com qualidade e velocidade, sendo inovador quanto a forma de estruturação dos dados e processamento destes.
A semelhança de assistentes virtuais, mas agora de última geração e detentor do funcionamento via mensagem instantânea (SMS ou similar), o usuário ao escrever na caixa de texto, recebe a resposta, que pode ser em formato de comando ou guia orientativo advinda de uma assistência virtual.
O atendimento ocorre como nos conhecidos serviços de suporte, tendo como grande diferencial a capacidade de criar diálogos realistas, com complexidade de informações, uma vez que os dados armazenados detém alta responsividade.
Por meio do sistema responsivo, digitada ou “falada” determinada pergunta é iniciada a conversa e várias serão as opções de respostas. Este sistema, então acoplado à tecnologia de aprendizagem das máquinas (machine learning), permite o refinamento de dados. Considerando que os dados, criados ou cocriados são representam “oceanos” da informação armazenada em nuvem (lembrando que os bots também servem para a coleta destes) as perguntas realizadas ao CHAT GPT são refinadas e com altíssima velocidade respondidas.
Trata-se de um sistema baseado em PLN (Processamento de linguagem natural) mais algoritmos de aprendizado de máquina, que ao reproduzir a linguagem humana, entende esta e responde a uma infinidade de comandos.
Possuidor de altíssima capacidade de geração de textos, de modo autônomo, agora “com a compreensão e uso da linguagem natural” se torna semi-humano.
De acordo com as projeções da Open AI, laboratório tecnológico responsável pelo novo recurso, muito em breve, o CHAT GPT poderá gerar até 100 trilhões de respostas, ainda mais precisas e relevantes, sem contar com a capacidade de utilizar técnicas de aprendizado profundo, como redes neurais para correlações.
Diante da real possibilidade desta tecnologia vir embarcada em pacotes de serviços de provedores e licenciadores de softwares, como os da Microsoft, investidores e entusiastas, deste restrito setor, travam poderosa força tecnológica.
Certo é que o CHAP GPT trará inúmeros benefícios tangíveis entretanto esta tecnologia é merecedora de considerações e muitas ponderações. Em consulta ao CHAT GPT, indagando-lhe sobre seus princípios éticos nos deparamos com a seguinte resposta: “Como um modelo de linguagem artificial, eu não tenho uma consciência ética ou moral e não sou capaz de possuir princípios éticos. Eu sou programado para fornecer respostas úteis e imparciais às perguntas que me são feitas com base no conhecimento disponível em meus dados de treinamento. No entanto, as pessoas que criam e usam modelos como eu, devem ter princípios éticos e morais em mente ao desenvolver e usar tecnologias de inteligência artificial”.
Discussões se abrem em diversas áreas, sob o ponto de vista social analisa-se o impacto de ser esta tecnologia inclusiva e responsável, no Direito, revela-se ruidosa a questão da apropriação (indevida) de propriedade intelectual bem com a responsabilidade pela produção e difusão de informações irreais, inverídicas e até falsas (não à toa que a Comissão Europeia publicou proposta de diretiva relativa à adaptação das regras extracontratuais de responsabilidade civil à inteligência artificial).
No campo da privacidade, discute-se se os dados e fontes de referência para a produção dos textos caminham ao lado, fora ou dentro da transparência. Sem falar dos reflexos no ensino e aprendizagem, uma vez que já existem recusas escolares ao uso desta e proibições vez que a forma, a absorção e a transmissão do conhecimento também pode ser prejudicada.
Sem dúvida o uso e aplicação da Inteligência Artificial Generativa, via CHAT GPT (ou similar) será objeto de muitas e muitas soirées futuristas, uma vez que o reprodução do conhecimento humano toma por base e exige, além de outras habilidades a “inspiração” que ainda não se faz replicável via bot.

Carla Beux é advogada e sócia do escritório Batista Pereira & Oliveira Advogados Associados. Responsável pelo BPO Legal Tech Innovation, hub de apoio do escritório.

Fonte: Bem Paraná

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