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Impulsionados pela situação financeira delicada de empresas muito dependentes da circulação de pessoas, como varejo de moda, transportes, bares e restaurantes, os pedidos de recuperação judicial saltaram quase 50% em maio na comparação com abril, de acordo com dados da Serasa Experian.

No mês passado, foram registrados 92 novos pedidos para entrada nesse regime, que tem como objetivo viabilizar a recuperação de uma empresa com a suspensão temporária de pagamentos a credores. O número é 48,4% maior do que o registrado em abril, quando houve 62 requerimentos.

Esse movimento foi puxado pelas micro e pequenas empresas, que responderam por 65% do total dos pedidos.

“O setor de serviços, onde a crise foi muito dura durante a pandemia, perdeu a expectativa de resolver amigavelmente essas questões com credores. Os números mostram que as empresas menores estão cada vez com menos fôlego e pedindo recuperação de forma mais forte”, aponta Fabio Astrauskas, professor do Insper e CEO da consultoria especialista em recuperação de empresas Siegen.

Na avaliação de Eduardo Seixas, diretor da área de reestruturação do escritório especializado em reestruturação Alvarez & Marsal, os dados mostram que as renegociações de dívidas conduzidas ao longo do ano passado estão começando a vencer, obrigando parte das empresas a pedir recuperação.

“Muita gente ficou sem faturar, o que afetou o fluxo de caixa”, avalia Seixas. “As grandes empresas conseguiram se reestruturar melhor, com acesso a crédito e a liquidez. Mas as pequenas e médias não tiveram essa possibilidade na mesma magnitude”.

Para o economista Luiz Rabi, da Serasa, os números acompanham o aumento da inadimplência das empresas, em especial das micro e pequenas –elas representam mais de 92% do total de pessoas jurídicas no vermelho. “O abre e fecha impacta diretamente as companhias menores, que não contam com reservas e enfrentam a redução das linhas de crédito especiais. Por isso, elas ainda patinam na recuperação e são maioria nesses indicadores”, analisa.

Supervia e TNG

O pedido de recuperação da Supervia, protocolado nesta terça (dia 8), ajuda a ilustrar como a pandemia impactou determinados segmentos. A empresa de trens urbanos, que acumula dívidas que somam R$ 1,2 bilhão, perdeu 102 milhões de passageiros do ano passado para cá como consequência do isolamento social.

“Há alguns segmentos em que não existe uma demanda reprimida que vai compensar parcialmente o problema quando a pandemia melhorar”, explica Astrauskas. “O faturamento com transporte de passageiros é um desses casos. A pessoa que deixou de usar o transporte, não vai usar duas vezes depois”.

É o tipo de situação que vai debilitando a situação financeira das empresas, empurrando-as para uma solução na Justiça. “Elas acabam tendo uma perda de caixa que é irrecuperável ao longo do tempo, e terão que renegociar compromissos”, diz o especialista da Siegen.

Outro exemplo sempre dado quando se fala de recuperação judicial é o de varejistas de moda, calçados e acessórios. Ao menos 13 grupos, a maior parte dentro de shoppings centers, recorreram à Justiça para repactuar pagamentos com credores — a última a engrossar esse movimento foi a TNG.

“O setor têxtil está sofrendo porque essas são vendas mais difíceis de se fazer pela internet”, aponta Astrauskas. “Você até pode comprar roupa pela internet, mas ainda é muito complicado”.

Ainda bem abaixo do pico de 2016

Apesar desse cenário desolador, os números em 2020 e no acumulado do ano até maio ainda estão melhores do que os registrados em 2020, auge da pandemia, e  2016, quando foi registrado a maior quantidade de pedidos de recuperação da história.

“Em setembro de 2016, houve 244 pedidos, mais de duas vezes superior ao registrado no mês passado”, lembra o especialista da Siegen. “Naquela época, os pedidos estavam muito altos, decorrentes da recessão que o país começou a viver em 2015”, explica.

E por que durante a pandemia, uma das maiores crises econômicas da história, o impacto não é parecido?

Em primeiro lugar, houve alguns efeitos amortecedores importantes: ações de prorrogação e refinanciamento de dívidas pelos bancos, a possibilidade de redução de salários e suspensão de contratos e, de forma indireta, o auxílio emergencial, que garantiu que a demanda se recuperasse.

Além disso, na avaliação de especialistas, esse efeito ainda será sentido nos próximos meses, fazendo o patamar de pedidos de recuperação em 2021 se igualar ao de 2016. “Acreditamos que o ano vai fechar com cerca de 1,8 mil pedidos de recuperação, muito concentrados nas pequenas e médias empresas. Com isso, vamos voltar ao patamar de 2016, infelizmente”, diz Seixas, da Alvarez & Marsal.

Para Astrauskas, há outro fator importante impedindo um número maior de pedidos até agora, e esse motivo não pode ser comemorado. “Essa é uma crise muito desigual, que afeta mais as pequenas e médias empresas em pior situação econômica. Elas muitas vezes não possuem condições, seja jurídica seja financeira, de entrar com pedidos de recuperação. Esse é um processo custoso, que requer contratação de escritórios especializados, pagamento do administrador judicial, entre outros”.

Fonte: 6Minutos

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